Há um ano e meio no comando da Polícia Militar de Mato Grosso, o coronel PM Osmar Lino Farias é formado em direito pela Universidade de Cuiabá (Unic). Já atuou na Coordenadoria Militar do Tribunal de Justiça do Estado, comandou o CR-1; o 1º e 9º Batalhão de Polícia Militar e foi sub-comandante do Batalhão de Trânsito. Hoje o coronel da PM é especialista em Segurança Pública pela Academia de Polícia de Goiás. Nesta entrevista, o comandante da PM de Mato Grosso fala dos investimentos da Polícia Militar visando à Copa do Mundo, as ações para as obras de mobilidade urbana em Cuiabá, o emprego do novo efetivo no quadro da PM e o desafio de combater o tráfico de drogas no Estado. “Em 18 meses fechamos mais de cinco mil bocas de fumo em todo o Estado e diversos traficantes foram presos. A cada 24 horas, fechamos em média cinco bocas de fumo apenas em Cuiabá e Várzea Grande”, destaca Farias nesta entrevista.


A Polícia Militar recebeu, no último mês, o acréscimo de mais de mil homens em seu quadro operacional. Qual o reflexo desse aumento para a Segurança Pública no Estado e como esses militares estão sendo empregados?

R: A distribuição desses militares ocorreu levando em consideração o número de habitantes a ser protegido, de maneira que estamos utilizando a maior parte desse efetivo em Cuiabá e Várzea Grande, cerca de 700 homens, que estão atuando neste momento na operação "Ponto X", realizando o policiamento ostensivo a pé nos pontos levantados pela Polícia Militar com maior índice de roubos e furtos em Cuiabá e Várzea Grande. A operação também acontece nos bairros da Baixada Cuiabana. Pelo Batalhão de Trânsito os policiais estão realizando diversas barreiras e blitz em Cuiabá e Várzea Grande, e já estamos obtendo bons resultados, com o retorno da sensação de segurança na região comercial e a redução nos índices de roubos e furtos nas regiões ocupadas pela operação. Desde o início da operação até o último dia 14 de outubro conduzimos 805 pessoas às delegacias.

Há previsão de mais concursos para Polícia Militar? Qual é o efetivo ideal para o nosso Estado?

R: Temos a necessidade de abrir mais um concurso para inclusão de outros 2.500 policiais. Hoje, o efetivo ideal seria de pelo menos 12 mil policiais. É claro que esse aumento que houve recentemente melhora a nossa a capacidade de prevenção, mas ainda não é o ideal. Apesar do esforço por parte do Governo do Estado em ampliar os serviços, as deficiências em infra-estrutura, principalmente nas cidades do interior, acabam prejudicando esse processo, porque o impacto financeiro com as inclusões é muito alto.

Como a Polícia Militar atua hoje na prevenção e repressão dos crimes em Mato Grosso, especialmente no combate ao tráfico de drogas na região Metropolitana e na fronteira, um dos canais de entrada de entorpecente no Estado?

R: A prevenção é a nossa missão constitucional entretanto, nem sempre é possível prevenir. Para que o crime ocorra é preciso que exista: vítima, agressor e ambiente favorável. A nossa atuação é basicamente eliminando o ambiente favorável através do policiamento ostensivo já que, nem sempre, é possível saber quem é vitima ou quem é agressor de forma antecipada. No que diz respeito ao combate ao tráfico doméstico de drogas, é uma meta do Governo do Estado. Com um trabalho de inteligência forte, apoio do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) e da Policia Judiciária Civil, em 18 meses fechamos mais de cinco mil bocas de fumo em todo o Estado e diversos traficantes foram presos. A cada 24 horas, fechamos em média cinco bocas de fumo apenas em Cuiabá e Várzea Grande. Na região de fronteira atuamos em apoio às grandes operações feitas pelo Grupo Especial de Segurança de Fronteira (Gefron) e também direcionamos nossas ações no combate às bocas de fumo nas áreas urbanas dos municípios fronteiriços.



Ednilson Aguiar/Secom/MT

Cel PM Osmar Lino Farias
Durante os jogos da Copa do Mundo, haverá um grande fluxo de pessoas em Mato Grosso. Como a Polícia Militar, especialmente os batalhões e grupos especializados, estão se preparando para atender a população, também em casos de ocorrências de alta complexidade?

R: Vamos prevenir ao máximo esse tipo de ocorrência. Se acontecer, vamos atuar com a Ronda Ostensiva Tático Móvel (Rotam) e, se for o caso, com o Bope. As duas tropas estarão preparadas especialmente para esse tipo de ocorrência. Nosso planejamento para a Copa do Mundo está pronto. Criamos novas unidades militares especializadas como a Cavalaria e o Canil. Melhoramos a grade curricular das academias, para que os policiais já saiam prontos para garantir à todos a segurança necessária durante o evento. Temos policiais dentro e fora do Estado se especializando em segurança pública. Recentemente um grupo do Bope esteve na Rússia adquirindo conhecimento técnico sobre armamento. Também temos policiais aprimorando conhecimento sobre artefatos explosivos na Colômbia. O próprio Regimento de Cavalaria, que está sendo implantado, tem realizado ações que permitem a troca de conhecimento com as polícias militares de outros estados como São Paulo e Distrito Federal.

Existe algum planejamento operacional da PM para o período das obras de mobilidade urbana da Copa do Mundo?

R: Sim. O Batalhão de Trânsito Urbano e Rodoviário estará atuando dentro do planejamento feito para esse período, ações essas que vem sendo trabalhadas em reuniões com a Secretaria de Trânsito Urbano de Cuiabá e também de Várzea Grande para alinhar as ações que vão garantir fluidez e segurança no trânsito durante as obras de mobilidade urbana. Acreditamos que nosso planejamento vai minimizar muito os transtornos causados pelas obras de desbloqueios da Copa.

O que a Polícia Militar tem feito para combater a onda de assaltos à banco e caixas eletrônicos no Estado?

R: Mapeamos todos os caixas eletrônicos localizados em vias públicas e fazemos rondas diuturnamente nas suas proximidades. Centenas de arrombadores de caixas eletrônicos já foram presos pela PM, alguns deles várias vezes pelo mesmo crime, inclusive. De janeiro a setembro de 2010 tivemos 128 ocorrências desse tipo, no mesmo período deste ano foram 78, uma redução de 39%. O problema maior que enfrentamos nesses casos são os arrombamentos em caixas localizados no interior de empresas privadas. Já os roubos à bancos demanda uma forte investigação da polícia, e temos feito um trabalho em conjunto com o Gaeco, que já apresenta resultado positivo, como a prisão de duas quadrilhas, sendo 15 presos do roubo ao banco de Tesouro e outros sete integrantes da quadrilha que roubou o banco de Campo Novo dos Parecis.

Como avalia esse um ano e meio frente à Polícia Militar de Mato Grosso? Todas as metas de comando já foram cumpridas?

R: Sem desmerecer o esforço e a capacidade dos comandantes anteriores, avalio como um dos períodos mais difíceis de comandar. No meu comando chegamos ao menor efetivo dos últimos sete anos. A evasão de policiais que passaram em outros concursos ou que pediram reserva remunerada fez com chegássemos ao efetivo de 5.920 policiais. É humanamente impossível fazer um bom trabalho com essa quantidade de profissionais. Graças ao esforço do Governo do Estado, estamos recuperando a nossa capacidade operacional e em breve esse quadro será revertido. Cumprimos as metas de reativações de unidades que já eram consolidadas dentro da instituição como a Rotam, o Batalhão Ambiental e o Batalhão de Trânsito Urbano e Rodoviário, e novas unidades especializadas também foram criadas como a Cavalaria e o Canil. *Colaborou a jornalista Dana Campos