As pesquisas de Haddad, que mora em São Paulo, resultaram no livro intitulado Animais Aquáticos potencialmente Perigosos do Brasil – Guia Médico e Biológico, que reúne dados estatísticos, terapêuticos e de atendimento a acidentados por animais marinhos e fluviais, além de medidas de primeiros socorros.
Ele respondeu algumas perguntas importantes. Veja abaixo:
Professor por que está ocorrendo os ataques em Cáceres ?
Com base nos trabalhos publicados feitos com a auxílio do Professor Ivan Sazima, um dos mais experientes cientistas do Brasil em comportamento de peixes, que relata entre outras coisas, surtos de até 300 mordidas em um só lago frequentado por banhistas, é possivel concluir que os ataques de piranhas nestas condições não são causados por cardumes e sim por machos que estão protegendo os ovos colocados em raízes de aguapés outras vegetações aquáticas e protegendo-os. É possível que possa ter havido também um aumento do número dos peixes. Mas são fatores múltiplos que deteminam o surto. Seria interessante saber se as mordidas foram únicas em cada paciente (fundamental para comprovação da teoria da proteção de ovos e não ataques por alimento, pois aí seriam são "mordidas de aviso", o que acredito mais. O tipo de piranha também é importante, pois algumas espécies são mais agressivas e se agrupam em cardumes. A topografia do local é determinante de mordidas: aguapés e outras plantas próximas às margens geralmente contém posturas quando as mordidas começam a acontecer. Uma só mordida é aviso!
Isso é comum ?
Não é raro. Tenho visto surtos de mordidas em São Paulo (pelo menos 6, devido aos muitos rios represados e águas paradas boas para lazer). Já monitorei também mordidas em lagos do Piauí e de outros açudes do Nordeste, na Amazônia e Palmas, no estado de Tocantins. Contribui para isso alterações da correnteza das águas, período de postura e espécie de piranha. A piranha-caju ou vermelha é a principal agressora e vi uma foto com duas delas nos acidentes de Cáceres.
Nesse local é nova a incidencia de ataques, por que ? A um desequibrio ambiental ?
Não posso afirmar se houve mudança da correnteza ou aumento da vegetação no local e o surto de mordidas é sempre causado por uma série de fatores. Temos que analizar a espécie (provavelmente a piranha-caju - Pygocentrus nattereri), a presença de plantas próximas à area das mordidas, se todas as mordidas foram únicas, etc. E 14 casos é um número muito pequeno. Isto pode aumentar ou não, dependendo das medidas preventivas, que são a colocação de redes finas no lugar e afastamento das plantas que estiverem próximas.
Essa notícia ajuda a satanizar as piranhas ?
Obviamente ninguém merece tomar mordidas de piranhas e isto assusta um pouco, mas tenham certeza que não existem piranhas assassinas e outras bobeiras de Hollywood por aí. Piranhas são peixes carnívoros, mas que se alimentam de nadadeiras e pequenos nacos de outros peixes, raramente atacando em cardume. Isto só ocorre quando existe extrema agitação e sangue na água. A maioria absoluta das mordidas ocorre quando pescadores distraídos tiram os peixes de anzóis ou quando existem ovos para serem protegidos. Imagino que a segunda situação seja o que está acontecendo em Cáceres.
Por: Jorna Oeste em 18/11/2011 10:02:49